Por que o hábito da leitura é essencial no curso de Direito?
10 de junho de 2025
Última atualização: 10 de junho de 2025
6 min

“O estudante de Direito precisa ler muito.” Todos os estudantes de direito já devem ter escutado essa frase pelo menos uma vez, senão muitas vezes, ao longo da graduação. Apesar de ser repetida à exaustão, ela retrata uma verdade. Desde os primeiros períodos do curso, o volume de textos jurídicos, doutrinas e legislações é intenso e só aumenta com o avanço dos semestres. Mas, mais do que uma exigência curricular, a leitura no direito deve ser tratada como um hábito fundamental para uma formação crítica, ética e profissional.
É comum que os estudantes, pressionados pela rotina intensa do curso, encarem a leitura como uma tarefa a ser cumprida. Mas transformar esse esforço em um hábito prazeroso e reflexivo faz toda a diferença. Ler para entender, e não apenas para decorar, é o que separa o estudante que "passa nas provas" daquele que realmente forma uma visão jurídica sólida, crítica e humanista.
Muito além do conteúdo: ler para compreender o mundo jurídico
Diferente de outras áreas, em que a prática pode se sobrepor à teoria em determinados momentos, o Direito exige um domínio profundo da linguagem, da interpretação e da argumentação. Tudo passa pela leitura. O estudante que não lê com atenção, consistência e estratégia dificilmente conseguirá compreender as bases do ordenamento jurídico, interpretar normas ou acompanhar a constante produção legislativa e jurisprudencial.
Mais do que decorar leis, é preciso entender contextos, analisar conflitos, identificar princípios e desenvolver raciocínio lógico. A leitura, nesse sentido, é a principal ferramenta de construção do pensamento jurídico.
Formação crítica e humanística
Outra função essencial da leitura na graduação em Direito é o desenvolvimento de uma visão crítica e interdisciplinar da realidade. O bom profissional não pode ser apenas um técnico que repete normas: ele precisa ser capaz de refletir sobre os impactos sociais das leis, os conflitos que elas regulam e os interesses que representam.
Nesse sentido, a leitura de obras de filosofia, sociologia, literatura, história e política enriquece o repertório do estudante e o prepara para lidar com as múltiplas dimensões dos casos concretos que enfrentará na prática. É na leitura de autores clássicos e contemporâneos para além da instituição que se formam não apenas advogados, mas pensadores do Direito.
O desafio da quantidade x qualidade
É comum que os estudantes se sintam sobrecarregados com a quantidade de textos indicados pelos professores: doutrina, decisões judiciais, artigos científicos, notícias, pareceres... De fato, o volume é grande, mas o verdadeiro desafio está em transformar essa leitura em aprendizado significativo.
Para isso, não basta ler mecanicamente. É preciso:
- Criar uma rotina de leitura, com metas realistas;
- Anotar, grifar e fazer resumos: a leitura ativa ajuda na compreensão e memorização;
- Discutir textos com colegas, em grupos de estudo ou debates;
- Ler criticamente, questionando as opiniões do autor, relacionando com outros temas e buscando aplicações práticas.
A leitura jurídica não deve ser feita com pressa, mas com tempo para assimilar as palavras e compreender o que está sendo dito. Afinal, não se trata de acumular páginas, mas de construir pensamento crítico.
Ler também fora do Direito
Ainda que o foco do curso esteja nas normas, códigos e jurisprudências, a leitura de obras não jurídicas é igualmente importante. A literatura, por exemplo, permite que o estudante entre em contato com dilemas morais, experiências humanas, injustiças, desigualdades, dramas sociais, perspectivas culturais e as ambiguidades do ser humano, elementos essenciais para a sensibilidade que o exercício do Direito exige.
Ler ficção, crônicas, biografias ou ensaios também amplia o vocabulário, melhora a escrita e desenvolve a empatia, habilidades indispensáveis a qualquer profissional do Direito. E os clássicos, além de aumentar a clareza argumentativa, a capacidade de análise e a profundidade na atuação profissional, também oferecem um repertório intelectual que ultrapassa modismos e fornece bases sólidas para pensar o mundo jurídico com profundidade. Eles auxiliam na compreensão da origem das ideias, dos conflitos da sociedade e dos fundamentos das leis e da justiça.
No Direito, a leitura não é só ferramenta, é formação de pensamento.
Sugestões de leitura para estudantes de Direito:
Algumas obras recomendadas que podem enriquecer sua formação, como leitura complementar e humanística:
- Vigiar e Punir – Michel Foucault
- Memórias do Cárcere – Graciliano Ramos
- A Hora da Estrela – Clarice Lispector
- O Espírito das Leis – Montesquieu
- Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis
- O Alienista - Machado de Assis
- 1984 - George Orwell
- O Quarto de Despejo - Carolina Maria de Jesus
- Torto Arado - Itamar Vieira Junior
E algumas sugestões de autores da literatura brasileira são: Machado de Assis, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade.
Conclusão: ler para ser, e não apenas para passar
Na graduação em Direito, a leitura é sim uma obrigação, mas precisa se transformar em um hábito e uma prática cotidiana para a formação de um profissional completo. Isso só pode ser conquistado através de uma leitura profunda, crítica e constante.
Muito além das provas, o conhecimento jurídico se consolida na leitura que forma a mente e o caráter. E quanto mais cedo esse hábito for cultivado, mais sólida será a trajetória acadêmica e profissional.

Giovanna Bruzzi
Serra Dourada